top of page

Sacatandeua: memória, luta e cinema na rota do X FICCA

  • Foto do escritor: Francisco Weyl
    Francisco Weyl
  • 18 de set.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 14 de out.

O X Festival Internacional de Cinema do Caeté não chega aos territórios como quem traz apenas filmes debaixo do braço. Ele chega como quem abre caminhos, como quem se senta à roda para ouvir, sentir, aprender e construir junto. E foi assim que, ontem, 17 de setembro de 2025, o festival aportou no Quilombo de Sacatandeua, em Quatipuru, nordeste do Pará — um território ancestral que carrega no corpo da terra e nas vozes de suas famílias a marca da resistência.

Sacatandeua é hoje uma comunidade titulada, mas o título de 332,9457 hectares, entregue em outubro de 2024 pelo Instituto de Terras do Pará (Iterpa), não veio de graça. Foi conquista de uma luta longa, feita de passos firmes contra a invisibilidade, contra a ameaça de perda da terra, contra os descasos do poder público. Ali vivem 24 famílias, organizadas em torno da Associação de Agricultores, Extrativistas e Pescadores Remanescentes Quilombo Sacatandeua, que sustentam suas existências pela agricultura familiar, pela pesca artesanal e pelo extrativismo, numa economia da vida que preserva o ambiente ao mesmo tempo em que garante alimento, cultura e pertencimento.

O acesso até a comunidade já revela uma das maiores dificuldades enfrentadas no dia a dia: são estradas precárias, que no período das chuvas quase se tornam rios de lama, isolando famílias, limitando a mobilidade e restringindo as possibilidades de escoar a produção agrícola. O deslocamento das crianças e dos jovens até a cidade de Quatipuru para estudar também expõe o peso das desigualdades. Hoje, não há Escola Quilombola de Sacatandeua. As crianças precisam se aventurar diariamente em longos percursos até a área urbana, arriscando-se no caminho. Essa reivindicação ecoou com força na roda organizada pelo festival: a escola é um direito, é uma necessidade vital, é a garantia de que o território se manterá vivo no futuro.

Foi nesse chão que chegaram Francisco Weyl, Roberta Mártires e Marcelo Rodrigues, compondo a equipe do FICCA. A ação se iniciou com uma dinâmica que lançou palavras-gatilho — raiz, tambor e sangue —, permitindo que a memória coletiva se abrisse, e que as camadas da luta e da resistência se manifestassem pela linguagem simbólica. A roda cineclubista projetou os filmes Artesania Tracuateuara (Quilombo do Torre) e Nas Águas do Rio Tijuoca o Patal Conta a Sua História (Escola Lauro Barbosa dos Santos Cordeiro, Patal, Augusto Corrêa), ambos trazendo o gesto de comunidades que contam a si mesmas diante da câmera.

Do diálogo, nasceu mais do que reflexões: nasceu um acordo de parceria. O FICCA e a Associação de Sacatandeua assumiram o compromisso de construir juntos um Cortejo singular, que narrará a história da comunidade — da luta até a conquista da titulação, e das demandas que ainda marcam o presente, como a mobilidade, a escola e a chegada de projetos no pós-titulação. Este Cortejo será resultado de encontros e oficinas realizados dentro da própria comunidade, envolvendo seus moradores desde o início até a culminância. Não será uma criação externa, mas um processo coletivo, nascido da terra e do corpo quilombola, acompanhado pelo festival e pela Associação.

Essa é a marca do FICCA: não apenas exibir cinema, mas transformar o cinema em ferramenta de formação, de escuta e de ação política. Desde 2016, o Festival Internacional de Cinema do Caeté percorre comunidades e cidades do nordeste paraense, unindo arte, memória e luta social. A cada itinerância, ele costura uma rede de cineclubes e coletivos que aprendem a manejar a câmera como quem maneja um tambor ou uma enxada: um instrumento de trabalho, mas também de celebração e resistência.

Já foram oficinas em Belém, em Augusto Corrêa, em Tracuateua; já houve encontros em Primavera, onde desde 2022 se consolida uma parceria contínua. O festival vai, volta, retorna aos territórios, como quem rega a semente já plantada. Sua metodologia combina dinâmicas de palavras, frases coletivas, objetos do cotidiano e desenhos, que se transformam em exercícios de criação. Ao final de cada jornada, há sempre a sessão cineclubista: projeções seguidas de debates, onde o filme deixa de ser apenas espetáculo e passa a ser pergunta urgente — quem conta nossas histórias hoje?

Em Sacatandeua, a resposta começou a ser desenhada ontem. O filme que virá será o Cortejo, corpo coletivo que vai narrar a história do quilombo com seus próprios passos e cantos.

Mas o festival não para. A itinerância do X FICCA continua: amanhã, dia 19, é a Associação dos Agricultores de Siquiriba que recebe a ação; e no sábado, 20, o encontro será na Associação dos Pequenos Agricultores do Guarumandeua. Em cada território, a prática se reinventa, mas a essência é a mesma: o cinema como raiz, tambor e sangue, pulsando no corpo da coletividade.

A culminância do festival virá em dezembro, em Bragança e Augusto Corrêa, nos dias 8, 9 e 10. Mas o que já se anuncia, desde Sacatandeua, é que o X FICCA deixa marcas profundas: a câmera como tambor que convoca, o roteiro como raiz que sustenta, e o filme como ato de memória e futuro.

 

Este Cortejo será resultado de encontros e oficinas realizados dentro da própria comunidade, envolvendo seus moradores desde o início até a culminância. Não será uma criação externa, mas um processo coletivo, nascido da terra e do corpo quilombola, acompanhado pelo festival e pela Associação.Essa é a marca do FICCA: não apenas exibir cinema, mas transformar o cinema em ferramenta de formação, de escuta e de ação política. Desde 2016, o Festival Internacional de Cinema do Caeté percorre comunidades e cidades do nordeste paraense, unindo arte, memória e luta social. A cada itinerância, ele costura uma rede de cineclubes e coletivos que aprendem a manejar a câmera como quem maneja um tambor ou uma enxada: um instrumento de trabalho, mas também de celebração e resistência.Já foram oficinas em Belém, em Augusto Corrêa, em Tracuateua; já houve encontros em Primavera, onde desde 2022 se consolida uma parceria contínua. O festival vai, volta, retorna aos territórios, como quem rega a semente já plantada. Sua metodologia combina dinâmicas de palavras, frases coletivas, objetos do cotidiano e desenhos, que se transformam em exercícios de criação. Ao final de cada jornada, há sempre a sessão cineclubista: projeções seguidas de debates, onde o filme deixa de ser apenas espetáculo e passa a ser pergunta urgente — quem conta nossas histórias hoje?Em Sacatandeua, a resposta começou a ser desenhada ontem. O filme que virá será o Cortejo, corpo coletivo que vai narrar a história do quilombo com seus próprios passos e cantos.Mas o festival não para. A itinerância do X FICCA continua: amanhã, dia 19, é a Associação dos Agricultores de Siquiriba que recebe a ação; e no sábado, 20, o encontro será na Associação dos Pequenos Agricultores do Guarumandeua. Em cada território, a prática se reinventa, mas a essência é a mesma: o cinema como raiz, tambor e sangue, pulsando no corpo da coletividade.A culminância do festival virá em dezembro, em Bragança e Augusto Corrêa, nos dias 8, 9 e 10. Mas o que já se anuncia, desde Sacatandeua, é que o X FICCA deixa marcas profundas: a câmera como tambor que convoca, o roteiro como raiz que sustenta, e o filme como ato de memória e futuro.

ree

🎧 Audiodescrição da Imagem – Encontro Comunitário no FICCA

A fotografia mostra um grupo de cerca de vinte pessoas reunidas em um ambiente simples, iluminado por uma luz branca no centro superior da cena.Elas posam para a foto, lado a lado e em duas fileiras — algumas em pé, outras agachadas ou sentadas.O espaço parece ser uma casa de barro ou palha, com o chão de cimento e uma coluna vermelha sustentando o teto.

As pessoas estão sorrindo e olham diretamente para a câmera, transmitindo acolhimento e cumplicidade.Entre elas há mulheres, homens e crianças, de diferentes idades.Veste-se de maneira casual: camisetas coloridas, vestidos, calças curtas e chinelos.Alguns seguram sacolinhas de pipoca, como se tivessem acabado de participar de uma sessão de cinema comunitária.

No canto direito inferior, vê-se parcialmente uma cadeira de plástico verde.A iluminação cria um contraste entre o centro mais claro e o fundo escuro, onde se percebem sombras suaves.

A imagem transmite calor humano, partilha e pertencimento, como um retrato vivo da força do cinema coletivo nas comunidades do Pará.


REALIZAÇÃO: X FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté / Arte Usina Caeté

PATROCÍNIO: Governo Federal/Ministério da Cultura; Governo do Pará/Secretaria de Cultura/Fundação Cultural do Pará, através da PNAB e Lei Semear; da Fundação Guamá, Parque de Ciência e Tecnologia - Guamá; Instituto Sustentabilidade da Amazônia com Ciência e Inovação; e Casa Poranga e de Seu Rompe Mato

APOIO CULTURAL: Multifário; Associação Remanescentes de Quilombolas do Torre/Tracuateua; Grupo de Pesquisas PERAU-PPGARTES-UFPA; Academia de Letras do Brasil; ALB-Bragança; Henrique Brito Avocacia.

APOIO INTERNACIONAL: Livraria Independente Gato Vadio (Porto); BEI Film; Escola Superior de Teatro e Cinema - Instituto Politécnico de Lisboa; Associação Nacional de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde; Fundação Servir Cinema Cinema - Cabo Verde

PARCERIA: BRAGANÇA: CVC; Pousada de Ajuruteua; Pousada Casa Madrid; Pousada Aruans Casarão; Mexericos na Maré; Paróquia de São João Batista; AUGUSTO CORREA: Escola Lauro Barbosa dos Santos Cordeiro - Patal; EMEF André Alves – Nova Olinda. PRIMAVERA: Vereador Waldeir Reis; Espaço Cultural Casa da Vózinha; Associação dos Produtores de Guarumandeua; Associação dos Agricultores de Siquiriba; QUATIPURU: Monóculo da Vovó; Associação Quilombola de Sacatandeua; ANANINDEUA: Centro Cultural Rosa Luxemburgo; BELÉM: Cordel do Urubu; Vagalume Boi Bumbá da Marambaia; Cine Curau; Casa do Poeta Caeté.

...

COORD. PEDAGÓGICA: ROSILENE CORDEIRO / MARCELO SILVA

COORDENAÇÃO: Francisco Weyl

COORD. PRODUÇÃO: Roberta Mártires

FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté – Ano 10

@ficcacinema

 

 
 
 

Comentários


  • Facebook ícone social
  • Instagram
  • Twitter
  • LinkedIn

FICCA © 2022 

bottom of page