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Oficina de Curadoria do FICCA: uma década de invenção e formação audiovisual na Amazônia

  • Foto do escritor: Francisco Weyl
    Francisco Weyl
  • 27 de ago.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 14 de out.

Belém, agosto de 2025 – Quando se pensa em cinema na Amazônia, a imagem que muitos têm é de um território marginalizado, distante das grandes produções e festivais internacionais. Mas há uma década, o Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA) vem mudando esse cenário. Com um olhar radicalmente comunitário, itinerante e formativo, o FICCA se consolidou como referência em cinema de resistência, promovendo narrativas que emergem da própria Amazônia e contestam padrões comerciais e industriais.

Este ano, entre os dias 28 e 30 de agosto e 2, 3 e 4 de setembro, a Casa do Poeta, em Belém, se transforma em espaço de imersão na Oficina de Curadoria do FICCA, coordenada por Francisco Weyl, poeta, cineasta e autor do livro KYNEMA: Ensaios científicos, semióticos, metafísicos, poéticos e políticos sobre arte, cinema e estéticas de guerrilhas (Editora Vicenza, 2021). Com 405 páginas e 19 capítulos, KYNEMA apresenta o que Weyl chama de “pensar-manifesto”: uma articulação crítica entre teoria, prática e ética estética que fundamenta a curadoria do festival.

FICCA: dez anos de resistência e formação

Criado em 2015, o FICCA nasceu com uma proposta clara: levar cinema ao povo, através de práticas de cineclubismo itinerante, oficinas comunitárias e exibições em praças e escolas, desconstruindo os padrões da indústria audiovisual capitalista e consolidando um cinema popular, experimental e político. Com oficinas, debates e exibições, o festival circula entre municípios do nordeste do Pará e se expandiu internacionalmente, com ações em Portugal e Cabo Verde, reforçando um diálogo afro-luso-amazônico que conecta comunidades, artistas e públicos.

Os conceitos que permeiam o festival se desdobram em práticas concretas. As estéticas de guerrilhas valorizam a experimentação, a insurgência cultural e o cinema feito com recursos mínimos, rompendo padrões comerciais. A poética das gambiarras celebra a criatividade inventiva, utilizando materiais improvisados e soluções adaptativas. Já as tecnologias do possível consistem em ferramentas e estratégias para viabilizar a produção audiovisual em contextos de escassez ou marginalidade, promovendo autonomia e potência criativa.

“Não se trata apenas de fazer cinema com poucos recursos”, explica Weyl. “É transformar limitações em poesia, inventividade em linguagem, e resistência em narrativa coletiva.”

Rede paraense de formadores e realizadores

O FICCA não opera sozinho. Por trás de cada oficina e sessão de cineclube, há uma rede sólida de realizadores paraenses, como Rosilene Cordeiro, Marcelo Rodrigues, Roberta Mártires e o ativista Cuité, que contribuem para a pedagogia audiovisual e para o fortalecimento da identidade local. “Trabalhar com o FICCA é aprender a ouvir, a olhar e a criar a partir da própria comunidade”, afirma Roberta Mártires. “Cada filme produzido é resultado de um diálogo entre memória, território e criatividade coletiva.”

A Oficina de Curadoria, em particular, reflete esse ethos formativo. Em seis encontros híbridos, os participantes exploram desde a história do festival até práticas concretas de avaliação de obras. Exercícios de microcrítica, debates sobre diversidade e representatividade e a construção coletiva de um “manifesto curatorial popular” permitem que teoria e prática se encontrem, consolidando a ideia de que a curadoria pode ser tanto política quanto poética.

Rosilene Cordeiro observa:“Trabalhar com o FICCA é experimentar cinema com o corpo, a memória e a comunidade. Cada oficina, cada debate é aprendizado coletivo.”

De acordo com Marcelo Rodrigues, trata-se de uma curadoria que nasce da prática e do território, não de uma lógica industrial ou mercadológica. Aqui, a estética se alia à ética, à política e à memória.

A Oficina de Curadoria: teoria, prática e radicalidade

A Oficina de Curadoria do FICCA é estruturada em seis encontros híbridos, somando 18 horas de imersão, com atividades presenciais e online. O percurso combina história do festival, fundamentos curatoriais, análise crítica de filmes, debates sobre diversidade e representatividade, e exercícios práticos de avaliação.

O primeiro encontro, em 28/08, apresenta a trajetória do FICCA, seus princípios e conceitos, com destaque para a curadoria como ato político e poético. A metáfora da “linguagem HTML do festival” explica como o FICCA organiza, mobiliza e divulga filmes, integrando categorias como cinema de periferia, cinema social, experimental, trans e engajado.

Nos encontros seguintes, são explorados critérios de seleção, categorias de premiação e práticas curatoriais, com exercícios de microcrítica e construção coletiva de olhares curatoriais. Já os encontros virtuais abordam o papel dos cineclubes na formação de público, curadoria inclusiva de gênero, raça, classe e território, e a elaboração coletiva do “manifesto curatorial popular”, síntese do aprendizado.

Cinema formativo como resistência ao mercado

O FICCA mantém, há dez anos, uma postura crítica frente à lógica comercial da indústria audiovisual. O foco formativo do festival – através de oficinas, cineclubes e sessões comunitárias – é inseparável do caráter anti-capitalista e emancipatório da iniciativa. Cada atividade reforça autonomia criativa, engajamento coletivo e resistência cultural.

Cuité enfatiza que o cinema aqui não é apenas entretenimento. É espaço de aprendizagem, inventividade e política. Cada projeto ensina que se pode criar de forma radical, mesmo com poucos recursos.

Legado e perspectivas

O FICCA constrói um legado que vai além das telas. Formando curadores, realizadores e públicos críticos, fortalece redes de cineclubes e estimula narrativas amazônicas autênticas. O festival demonstra que cinema, educação e resistência podem caminhar juntos. Cordeiro diz que cada participantepoderá sair com capacidade técnica, sensibilidade crítica e compromisso social. O cinema é nossa arma poética contra o apagamento cultural, conclui a realizadora.

Inscrições e informações

A Oficina de Curadoria do FICCA será presencial na Casa do Poeta (Trav. SN6 N. 210 – Conjunto COHAB Gleba 1, Nova Marambaia, Belém/PA) e online, em formato híbrido. As inscrições podem ser realizadas no local. Mais informações em www.ficca.net.br e no Instagram oficial @ficcacinema.

 

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🎬 Audiodescrição do cartaz – Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA 2025):

O cartaz é vibrante e colorido, com predominância de tons rosa, amarelo, lilás, azul e verde-limão.Ao centro, há uma ilustração em estilo pop art de uma pessoa de cabelos curtos usando óculos grandes redondos, com reflexos que lembram lentes de câmeras. Atrás dela há duas grandes lentes de filmagem, simbolizando o cinema.

Na parte superior, em letras brancas e amarelas, está o título:“Festival Internacional de Cinema do Caeté”e logo abaixo, em letras grandes amarelas:“CAETÉ”

À direita, em texto laranja e lilás, lê-se:“Casa do Poeta Caeté”e logo abaixo, em fonte preta:“#NAMARAMBAIA”

Mais abaixo, à esquerda, está escrito em branco:“Oficina”e em letras grandes e verdes fluorescentes, atravessando o cartaz:“CURADORIA”

À direita, sobre fundo lilás, aparecem as datas do evento:“28, 29, 30.08 / 2, 3, 4.09.2025”seguido da marca “Ficca.”

Na parte inferior, há diversas logomarcas de patrocínio, apoio e parceria cultural, incluindo:

  • Governo do Pará,

  • Ministério da Cultura,

  • Lei Aldir Blanc,

  • Governo Federal (Brasil – União e Reconstrução),

  • ISACI,

  • Fundação Cultural do Pará,

  • e várias instituições culturais e coletivos artísticos.

No rodapé, à direita, o texto “Realização: arte suino caeté” aparece acompanhado do logotipo da instituição — uma figura geométrica em formato de estrela.

No canto superior esquerdo, há uma pequena ilustração de uma figura humana estilizada com uma câmera no lugar da cabeça e fitas coloridas saindo do corpo.

O cartaz transmite uma atmosfera artística, criativa e festiva, celebrando os 10 anos do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA) e destacando a oficina de curadoria cinematográfica como parte da programação.


REALIZAÇÃO: X FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté / Arte Usina Caeté

PATROCÍNIO: Governo Federal/Ministério da Cultura; Governo do Pará/Secretaria de Cultura/Fundação Cultural do Pará, através da PNAB e Lei Semear; da Fundação Guamá, Parque de Ciência e Tecnologia - Guamá; Instituto Sustentabilidade da Amazônia com Ciência e Inovação; e Casa Poranga e de Seu Rompe Mato

APOIO CULTURAL: Multifário; Associação Remanescentes de Quilombolas do Torre/Tracuateua; Grupo de Pesquisas PERAU-PPGARTES-UFPA; Academia de Letras do Brasil; ALB-Bragança; Henrique Brito Avocacia.

APOIO INTERNACIONAL: Livraria Independente Gato Vadio (Porto); BEI Film; Escola Superior de Teatro e Cinema - Instituto Politécnico de Lisboa; Associação Nacional de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde; Fundação Servir Cinema Cinema - Cabo Verde

PARCERIA: BRAGANÇA: CVC; Pousada de Ajuruteua; Pousada Casa Madrid; Pousada Aruans Casarão; Mexericos na Maré; Paróquia de São João Batista; AUGUSTO CORREA: Escola Lauro Barbosa dos Santos Cordeiro - Patal; EMEF André Alves – Nova Olinda. PRIMAVERA: Vereador Waldeir Reis; Espaço Cultural Casa da Vózinha; Associação dos Produtores de Guarumandeua; Associação dos Agricultores de Siquiriba; QUATIPURU: Monóculo da Vovó; Associação Quilombola de Sacatandeua; ANANINDEUA: Centro Cultural Rosa Luxemburgo; BELÉM: Cordel do Urubu; Vagalume Boi Bumbá da Marambaia; Cine Curau; Casa do Poeta Caeté.

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COORD. PEDAGÓGICA: ROSILENE CORDEIRO / MARCELO SILVA

COORDENAÇÃO: Francisco Weyl

COORD. PRODUÇÃO: Roberta Mártires

 

 
 
 

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