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Marambaia organiza seu próprio caminho climático

  • Foto do escritor: Francisco Weyl
    Francisco Weyl
  • 30 de out.
  • 6 min de leitura


Na tarde de sábado (1.11), em Belém, a Marambaia — bairro urbano consolidado, de classe média, com raízes comunitárias e memória de luta — sai às ruas com o seu Cortejo Climático — e com algo mais raro que figurino, microfone e poesia: um método.

Não começou agora

O cortejo é episódio de uma história que vem sendo escrita há pelo menos dois anos — e protagonizada longe do centro, desde 2023, quando a Marambaia fundava o seu Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas .

A vulnerabilidade admitida, a autonomia exigida

Bairro urbano, é classe média, tem asfalto e padaria, mas também tem enchente, calor extremo, remendo urbano e desigualdade de acesso.

No documento base da Carta Climática — ainda em construção — a formulação é direta:

“A crise climática não é futura. É presente nas ruas, casas e corpos.”

A ideia, repetida em reuniões, não busca piedade. Busca lugar de fala política:

Se a COP vem, a pergunta na Marambaia virou provocação:

“Quem fala por quem?
Arte não como enfeite — como ferramenta de governo

O cortejo não é desfile.É processo político performativo — e isso foi dito em todas as assembleias.

Tem teatro, tem rima, tem boi, tem cordel.Não por nostalgia, mas por estratégia: linguagem comunitária é método de mobilização.

Quando o Cordel do Urubu abre o cortejo com crianças, não é “lúdico” — é pedagógico.Quando o Boi Vagalume caminha, não é folclore — é arquivo vivo de auto-organização popular que antecede qualquer edital cultural .

Quando o FICCA - festival internacional de cinema do caeté chama o cineclube na casa do poeta Caeté, quando a Biblioteca Bomboler trabalha a leitura lúdica e o grupo de Teatro GEMTE faz a cena na rua, a cidade reaprende a respirar.

Belém costuma consumir cultura como espetáculo.Na Marambaia, cultura continua sendo infraestrutura emocional, política e de sobrevivência.

A Carta que nasce antes da reunião

A Carta Climática que está sendo escrita com memória e afeto — tem princípios como :

  • justiça ambiental como reparação

  • participação como regra, não concessão

  • água e saneamento como base climática

  • cultura como política adaptativa

  • economia solidária como política pública

Não é retórica.É programa de governo do bairro para a cidade.

E, se governos ignorarem, o bairro registrou, publicou e marchou.

Nunca foi recado mais claro.

A COP, o bairro e a cidade

A pergunta que ecoa nas rodas é simples:

“Se a COP passa sem olhar para nós, passou por Belém?”

Nenhum morador aqui romantiza termômetro.Eles sabem que a temperatura não sobe igual para todos.E que a transição climática pode virar apenas mais um capítulo da história da desigualdade brasileira — se quem vive a cidade não escrever a pauta.

O cortejo, então, não é anúncio — é aviso.

Acontecerá com ou sem plateia

No sábado, dia primeiro de novembro, haverá tambor, microfone, bandeira, sorriso e seriedade.Mas, principalmente, haverá coerência.

Porque a Marambaia decidiu ser o que a cidade inteira deveria ser em tempos climáticos:informada, organizada, culturalmente viva, institucionalmente adulta e politicamente inquieta.

Se o mundo vier, verá.Se não vier, foi avisado.



CONFIRA NOSSA PROGRAMAÇÃO E A NOSSA PROPOSTA DE CARTA



Serviço

Cortejo Climático da Marambaia — “Nossa terra: corpo, memória, existência”📅 1º de novembro | ⏰ 16h - 📍 Quadra B – Gleba 1

Realização

Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas — Marambaia COP30com coletivos, escolas, artistas e moradores



Programação --------------------


16h – ACOLHIMENTO

Falas esclarecedoras e de agradecimento do Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas Marambaia COP30


16h15 – Apresentação Grupo de Teatro GEMTE

Histórias de beira de rio: contos e lendas para esperar a maré encher


16H30 - CORTEJO CLIMÁTICO DAS CRIANÇAS

Biblioteca BombomLER – Cordel do Urubu


17H - SAÍDA DO CORTEJO CLIMÁTICO DA MARAMBAIA

TRAJETO - quadra b - Rua WE2 - Travessa SN6 - Rua da Marinha - Travessa WE4 - quadra b


17H15

1ª ESTAÇÃO - CASA DO POETA CAETÉ

“Romaria da Nossa Senhora do Igarapé - o choro dos rios”

- Performance da ativista Naraguassu


17H30

2ª ESTAÇÃO - RUA DA MARINHA

Batalha de rima curta com o tema "Desmatamento da Mata da Marinha"

- MC Djay - Batalha do Cam - projeto do EcoFlow


17H50

3ª ESTAÇÃO - ASSOCIAÇÃO AMIGOS DO DOMINÓ (RUA SN3)

Performance vocal LGBTQIAP+

-Agarby e Laiana do Socorro


18H10 - DISPERSÃO, quadra B

Falas esclarecedoras e de agradecimento do Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas Marambaia COP30

Apresentação do CORDEL DO URUBU e convidados: Vagalume da Marambaia, Jotabê, Paulo Guimarães, Mateus Moura, Cuité Marambaia, Rabo do Boi


PRESENÇAS NO CORTEJO DOS PROJETOS CULTURAIS COMUNITÁRIOS

Boizinho Borba + Boizinho Fabuloso + Boizinho Pretinho da Marambaia + Boi Vagalume da Marambaia + Cordel do Urubu + MC Djay Batalha do Cam + -Agarby e Laiana do Socorro

+ Convidados e quem se chegar pra somar e colaborar na luta


REALIZAÇÃO: Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas Marambaia Cop30

+ COLETIVOS PARTICIPANTES DO CORTEJO CLIMÁTICO [01.11.2025]




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MANIFESTO CLIMÁTICO DA MARAMBAIA - EM CONSTRUÇÃO [2025]

A crise climática agrava disparidades e invisibiliza territórios periféricos como a Marambaia. Sem políticas específicas, a comunidade sofre com alagamentos, doenças e precariedades.

Sabemos que justiça climática exige reparações históricas e práticas participativas. Na Marambaia, acreditamos no bem viver, no cuidado com o território e na potência coletiva. Seguimos firmes, com esperança, memória e ancestralidade.

Convocamos moradores, coletivos, escolas, associações e poder público a fortalecer este movimento pela construção da Carta Climática, participar da mobilização e garantir que as vozes da Marambaia sejam respeitadas na COP30.

Nossa Carta Climática busca incluir nossas vozes em decisões da COP30 e cobrar políticas reparadoras. É um documento político‑técnico produzido coletivamente, com as demandas climáticas específicas do território, sendo instrumento de articulação com governos e instituições, para reivindicar políticas públicas, integrar saberes populares/ancestrais e estabelecer parâmetros de atuação e monitoramento social.

Linha do Tempo da Organização Social da Marambaia

Ano/

Período

Marcos Importantes

Ideias / Valores Emergentes

1960/

1970

Formação de comunidades periféricas com migração, falta de infraestrutura básica, ocupações informais; infância/adolescência marcada por ausência de serviços públicos; memória oral e cultural dos moradores.

Resistência, memória, sobrevivência; cultura popular resistente; ancestralidade; autoajuda comunitária.

1970/

1980

Construção de conjuntos habitacionais, reocupações.

Impactos comunitarismos com realocação de habitantes; cuidado com território e meio ambiente.

1980/

1990

Organizações dos movimentos comunitários e culturais (CCT / Troupe The 4 PRACENA / Galrar / Vagalume).

Organização coletiva, articulação de base, assembleias e grupos de trabalho.

2010

Surgimento do Boi Vagalume da Marambaia, toadas que expressam crítica e esperança, mobilização cultural local.

Cultura como denúncia, cuidado com símbolos locais, revitalização cultural, protagonismo artístico.

2023

II Feira do Livro Artesanal da Amazônia → fundação do Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas Marambaia COP30. Mobilização para demandas sociais numa perspectiva climática/periférica.

Voz local; escuta; protagonismo; articulação política.

2023/

2024

Oficinas, GTs, saraus, debates culturais; ações de base envolvendo escolas, associações, coletivos culturais, religiosos; iniciativas de educação política e de resistência.

Interseccionalidade; interculturalidade; política de reconhecimento; comunitarismo; cuidado com território e meio ambiente; justiça social.

2025

Preparativos para a COP30 ‒ Marambaia constrói protagonismo periférico rumo à COP30, com debate “Terra em Alerta, Corpos em Pé: Caminhos de Resistência até a COP30”. Construção da Carta Climática da Marambaia.

Assertividade política; autonomia; exigência de escuta real; ligação entre cultura, ambiente, justiça; defesa de direitos; reivindicação de participação.

Carta Climática da Marambaia – EM CONSTRUÇÃO

Princípios Orientadores

  • Interseccionalidade — reconhecer vulnerabilidades específicas e garantir soluções inclusivas.

  • Interculturalidade e ancestralidade — valorizar saberes tradicionais e cuidar dos ecossistemas locais.

  • Cuidado, bem viver e território — defender o território como espaço de identidade e dignidade.

  • Autonomia, protagonismo e participação popular — decisões sobre a Marambaia devem envolver os moradores.

  • Justiça ambiental, reparação e equidade — reparar dívidas históricas é parte da ação climática.

Preâmbulo

Ao Poder Público, às Instituições Nacionais e Internacionais, e à COP30Nós, habitantes da Marambaia — territórios de periferia, de igarapés, canais e rios, de memória, ancestralidade, cultura popular — reunidos no Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas Marambaia COP30, manifestamos nossa convicção de que a crise climática nos afeta cotidianamente. Reivindicamos justiça climática real, concreta e transformadora, centrada nos direitos humanos, no reconhecimento cultural, na preservação do território, na dignidade.Apresentamos esta Carta Climática, em construção, como fruto de debates, assembleias e grupos de trabalho realizados no território.A crise climática não é futura, é presente em nossas ruas, casas e corpos. Enfrentamos alagamentos, doenças, falta de saneamento, ausência de mobilidade e precariedade estrutural. Ao mesmo tempo, mantemos viva a cultura, a memória e a ancestralidade que sustentam nossa identidade amazônica.Reivindicamos Justiça Climática como prática concreta e não como discurso.A Marambaia é parte da Amazônia urbana. Aqui vivem milhares de pessoas historicamente invisibilizadas pelas políticas públicas. Sem reparação histórica e garantia de direitos básicos, falar de “ação climática” é perpetuar a exclusão. Não há justiça climática sem justiça social.

Demandas Prioritárias

  • Regularização fundiária e proteção territorial — Garantia de direito à moradia sem remoções forçadas; zoneamento participativo; defesa dos igarapés e áreas de risco.

  • Água e saneamento — Acesso universal à água potável, esgoto tratado, drenagem pluvial e manutenção dos canais e igarapés.

  • Mobilidade e infraestrutura urbana — Pavimentação, iluminação, transporte público adequado, segurança para pedestres e ciclistas.

  • Saúde, educação e cultura — Unidades de saúde equipadas, escolas fortalecidas com educação ambiental e valorização da cultura local.

  • Meio ambiente e adaptação climática — Preservação e recuperação de áreas verdes; projetos comunitários de reflorestamento, contenção da erosão e monitoramento da qualidade da água.

  • Emprego e economia solidária — Apoio a cooperativas culturais, agroecológicas e de economia criativa; programas de renda básica e capacitação profissional em áreas verdes.

Reivindicação

Solicitamos às autoridades que:

  1. Reconheçam a Carta Climática da Marambaia como documento legítimo de participação social;

  2. Destinem fundos de investimento climáticos específicos para territórios vulnerabilizados;

  3. Assumam compromissos de implementação imediata de políticas públicas que garantam água, saneamento, moradia, mobilidade e cultura em nosso território.


Fórum Permanente de Políticas Públicas Periféricas — Marambaia COP30

 
 
 

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