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A guerrilha audiovisual do Carpinteiro da Poesia na Amazônia

  • Foto do escritor: Francisco Weyl
    Francisco Weyl
  • há 1 hora
  • 5 min de leitura

O cinema popular, poético e insurgente

do Festival Internacional de Cinema do Caeté (FICCA) chega à sua décima edição reafirmando-se como um dos mais importantes movimentos de cinema de resistência da Amazônia. Criado em 2014 pelo poeta e cineasta Francisco Weyl, conhecido como o Carpinteiro da Poesia, o festival consolidou-se como espaço de formação, experimentação estética e democratização audiovisual. Com oficinas, mostras, cortejos, debates, performances e cineclubismo, o FICCA ocupa praças, escolas, quilombos e ruas da região nordeste do Pará – e atravessa oceanos em itinerâncias por Portugal e África.

A culminância desta edição ocorre em dezembro de 2025, nos dias 8, 9 e 10, mas o festival já está nas ruas desde o início do ano, celebrando 10 anos de caminhada e resistências.


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Francisco Weyl: o Carpinteiro da Poesia

Formado em Cinema pela Escola Superior Artística do Porto (2001), com pós-graduação em Semiótica e mestrado pela UFPA (2003/2014), e atualmente doutorando em Artes pelo PPGARES/UFPA (com doutorado-sanduíche na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa em 2024/2025), Francisco Weyl construiu uma trajetória que une teoria e prática, poesia e ação política.

Professor de Comunicação, Artes, Filosofia e Semiótica em instituições do Pará, de Portugal e de Cabo Verde, Weyl tem atuação marcada pela militância cultural. Foi presidente da Federação Paraense de Cineclubes (Paracine), organizador do FEST-FISC (Festival Internacional de Cinema Social, ligado ao Fórum Social Mundial), criador de projetos como o Inovacine-Fapespa e premiado em iniciativas como a Residência Estética – Resistência Marajoara (2009).

Autor do livro KYNEMA (2021), obra teórica que propõe uma estética de guerrilha para o cinema amazônico, Weyl define o FICCA como “carpintaria de poesia em movimento”. Para ele, o festival é um espaço onde o cinema deixa de ser mercadoria e se torna ferramenta de resistência, inclusão e transformação.

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A resistência do cinema de guerrilha

O FICCA é construído como um cinema de guerrilha, marcado por três elementos fundamentais: a precariedade técnica transformada em estética; o trabalho coletivo com estudantes, quilombolas e mestres populares; e o compromisso político de narrar a Amazônia a partir de suas próprias vozes.

Como explica Weyl em suas oficinas: “Não precisamos de grandes equipamentos para fazer cinema. O que precisamos é de escuta, de coragem e de poesia. O cinema de guerrilha é o cinema possível, feito com o povo e para o povo.

Essa concepção está presente em todas as ações do festival: desde os videopoemas criados em escolas públicas de Augusto Corrêa, até as exibições em praças de Quatipuru, passando pelas performances poéticas em Belém e Bragança. O cinema do FICCA não nasce de estúdios milionários, mas das esquinas, dos corpos em movimento e das memórias coletivas.

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Tríade conceitual das oficinas do FICCA

Um dos diferenciais do festival é sua tríade conceitual de oficinas:

1.Cartografia Afetiva – mapeamento das histórias locais, dos afetos, das memórias comunitárias e do imaginário popular.

2.Roteiro Sensorial – criação de narrativas a partir do corpo, da escuta, da oralidade e da improvisação poética.

3.Performance e Exibição Comunitária – momento em que o filme ganha vida nas ruas, nas praças, nas escolas, transformando a exibição em encontro coletivo.


Esse método formativo rompe com a lógica tradicional das escolas de cinema e coloca a comunidade como protagonista. Os filmes produzidos são sempre exibidos publicamente, seguidos de debates que transformam a tela em território político.



Oficinas que viram cinema, cinema que vira comunidade


Escola do Patal (Augusto Corrêa)

Nos últimos três anos, a Escola Lauro Barbosa dos Santos Cordeiro (Patal) tornou-se um polo formativo do FICCA. Em 2025, a oficina “Cinema-Manifesto”, conduzida por Weyl e oficineiros como Rosilene Cordeiro e Roberta Mártires, mobilizou estudantes em exercícios de escuta corporal, escrita sensorial e declamação poética. O resultado foram videopoemas exibidos em praça pública, onde o cinema se fez também festa e cortejo.

Nova Olinda

Na Escola EMEF André Alves, estudantes participaram da oficina “Cinema da Amazônia – Quem Conta Nossa História?”, transformando memórias do cotidiano em narrativas audiovisuais. “Aqui eu vi que minha vida também é cinema, que a história da minha avó também pode estar na tela”, disse a estudante Ana Clara, de 14 anos.

Quatipuru – Monóculo da Vovó

No espaço cultural Monóculo da Vovó, a oficina “Da imagem oral ao cinema real” transformou histórias ancestrais em curtas audiovisuais, entrelaçando crochê, oralidade e cinema. Moradores locais narraram lendas e memórias, transformadas em imagens projetadas na própria praça. “Foi como ver minha avó contando histórias outra vez, mas agora na tela”, relatou o jovem participante Mateus Moura.


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Itinerâncias afro-luso-amazônicas

O caráter internacional do FICCA se consolidou em 2018, quando o festival chegou a Portugal (Porto) e a Cabo Verde. Desde então, suas itinerâncias reafirmam a ligação entre a Amazônia, a lusofonia e a África. A décima edição teve início na Livraria Gato Vadio, em Porto, com exibição de dezenas de filmes amazônicos e debates com cineclubistas portugueses. Em Cabo Verde, o festival encontrou eco em escolas e coletivos culturais que compartilham a experiência do cinema como resistência.

O FICCA é um festival que reconhecemos como irmão, porque também acreditamos no cinema como ferramenta de libertação”, destacou a cineasta caboverdiana Jéss Saldanha.



FICCA nas ruas: cortejos, debates e ancestralidade

O festival não se limita às salas de exibição: ocupa as ruas com cortejos, rodas poéticas, exibições em praças e rituais de ancestralidade. Personagens como a Caruana e a Nega Benedita fazem parte da simbologia do festival, evocando a memória ancestral afro-amazônica.

Além disso, debates e rodas de conversa fortalecem a crítica e a reflexão coletiva. Pesquisadores, estudantes, artistas e mestres populares compartilham experiências sobre cinema, cultura e resistência.



Uma rede solidária de cinema popular

O FICCA é, antes de tudo, uma rede solidária. Reúne jovens cineastas, mestres populares, coletivos culturais, instituições de ensino e parceiros internacionais. Já exibiu centenas de filmes, premiou dezenas de produções e formou uma nova geração de realizadores amazônicos.

Nomes como Cuité, Roberta Mártires, Rosilene Cordeiro, Jéss Saldanha e Mateus Moura compõem essa constelação criativa que alimenta o festival.

O FICCA nos ensina que cinema não é só indústria, é também memória, festa, política e comunidade”, afirma Roberta Mártires.



Culminância em dezembro

Nos dias 8, 9 e 10 de dezembro de 2025, o FICCA chega à sua culminância com cortejos, mostras, debates e premiações. Será o grande momento de encontro de todos os territórios que receberam o festival ao longo do ano.

Em 10 anos de história, o FICCA reafirma sua vocação de cinema insurgente, popular e comunitário. Como resume Weyl: “O cinema do FICCA é carpintaria de poesia: nasce do chão da Amazônia, com as mãos do povo, para projetar nossas histórias no mundo.


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REALIZAÇÃO: X FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté / Arte Usina Caeté


PATROCÍNIO: Governo Federal/Ministério da Cultura; Governo do Pará/Secretaria de Cultura/Fundação Cultural do Pará, através da PNAB e Lei Semear; do Instituto Sustentabilidade da Amazônia com Ciência e Inovação; e Casa Poranga e de Seu Rompe Mato


APOIO CULTURAL: Multifário; Associação Remanescentes de Quilombolas do Torre/Tracuateua; Grupo de Pesquisas PERAU-PPGARTES-UFPA; Academia de Letras do Brasil; ALB-Bragança; Henrique Brito Avocacia.


APOIO INTERNACIONAL: Livraria Independente Gato Vadio (Porto); BEI Film; Escola Superior de Teatro e Cinema - Instituto Politécnico de Lisboa; Associação Nacional de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde; Fundação Servir Cinema Cinema - Cabo Verde


PARCERIA: BRAGANÇA: CVC; Pousada de Ajuruteua; Pousada Casa Madrid; Pousada Aruans Casarão; Mexericos na Maré; Paróquia de São João Batista; AUGUSTO CORREA: Escola Lauro Barbosa dos Santos Cordeiro - Patal; EMEF André Alves – Nova Olinda, Augusto Corrêa. PRIMAVERA: Vereador Waldeir Reis; Espaço Cultural Casa da Vó Zinha; Carimbó do Nilo; Associação dos Produtores de Guarumandeua; Associação das Famílias Reunidas do Jabaroca; Grupo de Carimbó Raio se Sol; QUATIPURU: Monóculo da Vovó; Associação Quilombola de Sacatandeua; ANANINDEUA: Centro Cultural Rosa Luxemburgo; BELÉM: Cordel do Urubu; Vagalume Boi Bumbá da Marambaia; Cine Curau; Casa do Poeta Caeté.



FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté – Ano 10

@ficcacinema

 
 
 

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