O FICCA, em seu décimo ciclo, finca-se como raiz ancestral, nutrida pela seiva das águas que serpenteiam Bragança e reverberam além do Caeté. Suas costelas, largas e plurais, abraçam o Atlântico em um gesto insurgente, unindo a lusitanidade de Portugal ao sangue africano de Cabo Verde, entrelaçando-se com a essência amazônica, com os pés firmes no chão caeteuara. E ao mesmo tempo, ele pertence a todos os territórios, rasga fronteiras, flutua pelas águas, ecoa nas comunidades mais remotas, distantes das engrenagens mercadológicas que tentam aprisionar a criação, mas próximas da pulsação coletiva das gentes que habitam o chão, as florestas e os rios.
O FICCA é uma ode à resistência. Um cinema que se lança com a força dos ventos de guerrilha, onde a poesia brota nas brechas, nas marés baixas e nas marés altas. Ele respira nos quilombos de Tracuateua, nas escolas de Ajuruteua, nas vilas de Augusto Corrêa, onde as imagens se moldam no barro da vivência, nas texturas da luta cotidiana, nos cenários de lama e luz que sustentam narrativas em permanente construção. Aqui, não há imposições do mercado, não há lugar para as cercas invisíveis que dividem o que pode e o que não pode ser visto. Este é o espaço do impossível tornado possível, da imagem criada na precariedade, transformada em potência.
O cinema que aqui floresce é feito por mãos calejadas, corpos insurgentes, mentes inquietas. Mulheres, trans, jovens da periferia, negros, indígenas — aqueles que trazem no corpo a história de exclusão, mas também a força da recriação e da estética que desafia e transforma. É o cinema de quem conhece os becos e as esquinas, as margens dos rios e das cidades, e que faz da gambiarra um manifesto poético, da escassez, uma ferramenta de reinvenção. É a expressão do coletivo, do poder subversivo que o cinema carrega quando não se curva à lógica de mercado.
Neste festival, onde a cinefilia se nutre da paixão e da profundidade crítica, cada filme é uma fagulha de transformação. Aqui, as filmografias banidas dos circuitos comerciais encontram um lugar de acolhimento. O olhar acadêmico se entrelaça com a visão do experimentalista, e o cineasta se despe das amarras de poder para libertar sua criação, que reverbera nas telas com a força das águas que cortam a Amazônia. Não é apenas cinema, é a própria vida transmutada em narrativa, uma celebração do diverso, uma sinfonia de vozes que se recusa ao silêncio.
Assim é o FICCA, um festival que pulsa com o ritmo da terra, da água, das mãos e dos corpos que o fazem acontecer. Ele transcende a tela e se enraíza na alma de quem o vive.
Nesse sentido, estamos buscando parceiros que desejam colaborar com a estrutura e receber nossas açoes, que consistem em sessões cineclubistas, rodas dialógicas e oficinas de Cinema de Guerrilha.
Começaremos com a Mostra NEGRO FICCA (Novembro), seguindo-se da Mostra CINEMA CONTEMPORÂNEO DE RESISTÊNCIA AMAZÔNIDA, que percorrerá na sua X edição, o festival terá ações entre Outubro de 2024 e Julho de 2025, em Portugal, Cabo Verde e no Nordeste da Amazônia Paraense.
O FICCA é seu, nosso, da Amazônia — e do mundo.
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Por Francisco Weyl, o Carpinteiro de Poesia
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